Três pesquisas reforçam digitalização dos serviços financeiros na pandemia

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A pandemia acelerou como nunca a digitalização dos serviços financeiros. Três pesquisas recentes reforçam esse movimento. Entre fevereiro e agosto, houve um aumento de 122% na adesão da classe baixa (famílias com renda de até 0,75 salários mínimos por pessoa, na classificação do IBGE), conforme levantamento da Cinnecta, plataforma de inteligência de dados especializada em análise de comportamento.

Nova análise feita pela empresa, a pedido da Finsiders, mostra a manutenção desse comportamento entre setembro e outubro. No período, aumentou em 0,9% o interesse dos brasileiros por serviços financeiros digitais. A maior taxa de crescimento foi vista na região Norte, com alta de 2,6%.

A evolução tem a ver, claro, com o pagamento do auxílio emergencial, que chegou a 45% dos domicílios em estados das regiões Norte e Nordeste, segundo a Cinnecta. “Em algumas cidades do Norte, como Japurá (AM) e Amapá (AP), o percentual da população que recebeu o benefício ultrapassou três quartos dos habitantes, 76% e 87%, respectivamente”, diz a empresa.

Desbancarizados

Pesquisa da Mastercard, divulgada anteontem (26), destaca que o número de brasileiros desbancarizados diminuiu 73% nos últimos cinco meses. O novo estudo, realizado pela Americas Market Intelligence em parceria com a bandeira, deixa clara a necessidade dos brasileiros em usarem serviços online para fazer transações financeiras.

Conforme a pesquisa, feita com consumidores de Brasil, México, Argentina e Colômbia, os primeiros subsídios governamentais nos países foram fundamentais para ampliar o acesso ao sistema bancário. Devido aos programas de benefícios sociais criados para minimizar os impactos da covid-19, a população não bancarizada em toda a América Latina teria sido reduzida em 25%, diz o estudo.

Uso do auxílio emergencial (Crédito: Divulgação/Mastercard)
Uso do auxílio emergencial (Crédito: Divulgação/Mastercard)

No Brasil, o auxílio emergencial sofreu mudanças importantes desde sua implementação em maio deste ano. A criação de uma norma que proíbe a transferência ou saque da conta por 30 dias foi um divisor de águas na forma como os consumidores estavam utilizando o benefício.

Enquanto em maio menos de 5% das transações eram realizadas de forma digital e cerca de 35% das transações eram de saque, em agosto, as transações digitais feitas por aplicativo atingiram a marca de 63% e os saques caíram para 15%.

Devido aos auxílios disponibilizados e o maior acesso a fintechs e bancos digitais, 40 milhões de pessoas na América Latina criaram contas em instituições financeiras nos últimos cinco meses. No Brasil, a população desbancarizada foi reduzida em 73%, enquanto na Argentina a queda foi de 18% e de 8% na Colômbia.

Aplicativos

A maior adesão a plataformas e aplicativos de bancos digitais e fintechs não se restringiu ao Brasil e à América Latina. Os usuários estão usando cada vez mais o mobile para fazer transações financeiras, com altas taxas de crescimento em países como Japão (75%), Alemanha (45%), Turquia (39%), Estados Unidos (33%) e Reino Unido (29%), conforme dados que acabam de ser divulgados pela Adjust, plataforma global de marketing de aplicativos, e pela provedora de inteligência para aplicativos Apptopia.

Segundo o levantamento, que analisou o uso dos aplicativos no primeiro semestre comparado ao mesmo período de 2019, o número de sessões em aplicativos de pagamento aumentou 49% em média nos diferentes países pesquisados. Combinados, os aplicativos de pagamento e banking tiveram um incremento de 25%, em média, nos diferentes países da pesquisa.

A atividade em apps de investimento também está em franco crescimento. De janeiro a junho, houve alta de 88%, na média, de sessões por dia nessas plataformas, segundo a pesquisa. Mundialmente, os apps de investimento são a segunda categoria que mais cresce rastreada pela Adjust em 2020, passando na frente de outras, como os jogos casuais e hiper casuais.

Neobanks

Se os bancos digitais já vinham numa toada de crescimento, na pandemia esse movimento ganhou ainda mais força. Levantamento recente feito pela S&P Global Market Intelligence, a partir de dados públicos, mostra que os principais ‘neobanks’ viram o número de clientes subir entre 40% e 50% no primeiro semestre do ano.

Somente o Nubank, maior player do segmento com 30 milhões de clientes, adicionou 10 milhões de novos usuários à base. O Inter, que agora não tem mais ‘banco’ no nome, bateu 7,2 milhões de correntistas, conforme prévia operacional dos resultados do terceiro trimestre. Para se ter uma ideia, em janeiro eram cerca de 4 milhões de clientes. Em entrevista para o Valor, Priscila Salles, CMO da instituição, me disse que a expectativa é encerrar o ano com 8,5 milhões de clientes.

Com pouco mais de um ano de operação, o C6 Bank passou recentemente de 3 milhões de clientes. “Nosso posicionamento é ser um banco completo”, me contou Maxnaun Gutierrez, head de produtos e pessoa física do C6 Bank, em entrevista para o Valor.