Fintechs avançam em renegociação online de dívidas

(Atualizada às 17h51) As fintechs estão avançando no mercado de renegociação online de dívidas e recuperação de crédito. Não é à toa. Mais de 60 milhões de pessoas no Brasil estão com o nome sujo na praça, número que se acelerou durante a pandemia do novo coronavírus. O mercado de dívidas em aberto no país (de PF e PJ) é estimado em R$ 600 bilhões.

Entre as empresas que apostam nesse segmento estão Acordo Certo, QueroQuitar, BLU365, Uffa e Adimplere. Mas também nomes tradicionais, como Recovery, vêm ampliando o investimento em canais digitais.

Crédito: Pexels

É, de fato, um mercado aquecido. Depois do seu IPO, em que levantou R$ 2,17 bilhões em setembro do ano passado, a Boa Vista fechou a compra da Acordo Certo por R$ 37 milhões (como bem lembrou um executivo do setor, o deal pode chegar a R$ 100,6 milhões após a conclusão da operação, conforme cumprimento de metas e outras condições). Em dezembro, o Inter anunciou a aquisição da plataforma Meu Acerto.

Fundada em 2014 por Dilson Moura de Sá e Edgard Melo, a Acordo Certo tem dívidas de 57,8 milhões de CPFs, que representam uma carteira de mais de R$ 119 bilhões disponíveis para negociação na plataforma. A fintech tem mais de 30 empresas parceiras e recuperou mais de R$ 288 milhões em acordos de dívidas em atraso em 2020.

No ano passado, o número de acordos na plataforma foi de 4,2 milhões, alta de mais de 240% em relação a 2019. Já a base de usuários dobrou de um ano para o outro e chegou a 15 milhões de pessoas cadastradas.

A QueroQuitar viu sua base de clientes aumentar de 12 para 52 milhões de CPFs entre março e julho de 2020. Já o volume de acordos na plataforma cresceu 280% no mesmo período. E o pagamento à vista das contas em atraso, que era de 27%, subiu para 53%.

Fundada em 2015 por Marc Lahoud, Artur Zular e Alencastro Silva, a fintech tem entre os investidores a Bossa Nova Investimentos, 500 Startups e Wayra Brasil.

Também fundada em 2015, a BLU365 (antiga Kitado) entrou no ano passado no segmento de crédito podre de pequenas e médias empresas, por meio de um fundo de R$ 50 milhões para compra de cerca de R$ 1 bilhão em carteiras inadimplentes. Entre os investidores do negócio estão monashees, Distrito e Plug and Play.

Em operação desde o ano passado, a Uffa quer ir além da renegociação online de dívidas. A fintech oferece crédito (empréstimo pessoal e antecipação de recebíveis) em parceria com instituições financeiras, lançou um cartão de crédito com bandeira Mastercard e tem uma solução de cashback para as pessoas que negociam as dívidas via plataforma.

“Somos uma plataforma integradora de serviços financeiros, atrelados tanto a empresas quanto consumidor final”, explica em conversa com a Finsiders Ana Paula Pisaneschi, cofundadora e CEO da Uffa, uma executiva com experiência em gestão de ativos estressados. Por enquanto, a empresa não teve investimento externo — a plataforma foi desenvolvida com recursos dos sócios, Ana Paula e Alexandre Rosa. Mas a fintech se prepara para abrir um round de captação.

Com pouco mais de 2 milhões de CPFs e CNPJs cadastrados e 11 instituições parceiras (outras nove estão em fase de integração), a fintech espera ver o númeor de CPFs saltar para 7 milhões nos próximos dois meses. Os concorrentes, além das plataformas de negociação de dívidas, são os escritórios de cobrança e call center, diz Ana Paula.

Quem também aposta no segmento de cobrança e recuperação de crédito é a Adimplere, fintech que tem entre os investidores ex-executivos de Serasa Experian, HSBC Brasil e Santander. A empresa está com uma captação aberta na plataforma de equity-crowdfunding EqSeed, com meta de levantar R$ 4 milhões em troca de 15% de equity — até o início da tarde desta segunda-feira (1º), a empresa já havia captado R$ 1,25 milhão (31% do total).

Grandes bancos e empresas tradicionais também se movimentam

Lançada em novembro de 2019, a emDia é uma plataforma on-line de renegociação de dívidas criada pelo Santander — o negócio funciona de maneira apartada da estrutura do banco, assim como os outros ‘new ventures’ da instituição, Superdigital e Pi Investimentos.

Com oito clientes, entre eles, Vivo e Havan — e um pipeline para integrar mais dez parceiros, a emDia começou fazendo 2 mil negociações por mês e terminou o ano passado com cerca de 116 mil negociações mensais, conta Mariana Perez, CEO da emDia, hoje com 5 milhões de clientes cadastrados.

“Num lugar só, a pessoa faz a proposta e simula a negociação. Não precisa falar com ninguém.”

No ano passado, a fintech lançou a consulta de score e, mais recentemente, começou a testar o pagamento da negociação com cartão de crédito. “Para certos públicos e tipos de dívida, faz sentido oferta de negociação de dívida com cartão. Estamos experimentando”, diz Mariana.

Uma das principais empresas na área de recuperação de crédito e cobrança, a Recovery (empresa do Itaú) viu a participação dos canais digitais (site, WhatsApp, aplicativo e Facebook Messenger) aumentar dez pontos percentuais entre 2019 e 2020. Em novembro, a fatia desses canais atingiu 54% dos acordos — no total, foram 535 mil acordos por esses meios.