Seguros são a próxima revolução em serviços financeiros, aponta report

A inovação e transformação digital no setor financeiro estão a todo o vapor (bem, é justamente para cobrir isso que o Finsiders existe. Mas essa é outra história). Um novo report, lançado nesta quarta-feira (22) pelo fundo de Venture Capital Atlantico — liderado por fundador do Peixe Urbano Julio Vasconcellos — só reforça o ‘boom’ das fintechs, o avanço dos neobanks e as mudanças no mercado de pagamentos (alô, alô, Pix!), entre outras tendências.

O estudo aponta seguros como a próxima revolução, que deve ser impulsionada pelas mudanças regulatórias, assim como vem ocorrendo há alguns anos com o setor bancário e de pagamentos. São duas iniciativas principais capitaneadas pelo regulador do setor, a Superintendência de Seguros Privados (Susep): o Open Insurance e o ‘sandbox’ — este último que está indo para a segunda edição.

Conforme o cronograma proposto pela Susep, o Open Insurance terá início em dezembro o compartilhamento de dados públicos relacionados a produtos e canais de serviços. Daqui a um ano, começará o compartilhamento de dados pessoais, com consentimento do cliente. A terceira e última fase está prevista para dezembro de 2022, com o compartilhamento efetivo de serviços, por exemplo, portabilidade, avisos de apólices de seguros, entre outros.

Dados da Swiss Re Institute, citados pelo report do Atlantico, apontam o potencial do mercado segurador na América Latina. No Brasil, por exmeplo, os prêmios de seguros representam apenas 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB). A proporção é ainda menor em outros países da região, como Chile (4%), Colômbia (3,1%), México (2,6%) e Argentina (2,2%). Bem diferente do que nações, como Estados Unidos (12%), ou Japão (8,2%), onde a cultura de seguros é mais presente.

Quando existe potencial, existe o quê, adivinha? Startup. No caso, insurtechs. O número de iniciativas nessa vertical vem crescendo nos últimos anos e chegou a quase cem negócios em 2020 (eram 34 cinco antes, para se ter uma ideia), segundo a base de dados do Distrito, citada pelo report. Em outros países, a quantidade é inferior: México (42), Argentina (34), Colômbia (14) e Chile (13), conforme dados do Statista.

O relatório menciona como exemplo a 180º Seguros, que atua em parceria com empresas como a Loft para criar produtos personalizados, numa plataforma 100% digital. Há outros nomes avançando na vertical, como o leitor do Finsiders sabe, por exemplo, Pier, Thinkseg, IZA, 88i, Kakau, entre outras — cada uma no seu quadrado, ou em algumas modalidades de seguros.

O report destaca também a evolução do mercado cripto, citando que Latam se tornou um hub de criptomoedas, com um aumento no número de startups e transações na área. Tanto é que a quantidade de fintechs na vertical cresceu 5x entre 2015 e 2020, chegando a 88 empresas, conforme dados do Distrito. O volume de negociação de bitcoin em dólar nos EUA foi de US$ 1,5 bilhão em 2020, sinal do ‘boom’ em torno da criptomoeda mais pop.

No Mercado Bitcoin, maior plataforma de criptomoedas da América Latina, por exmeplo, o volume de transações financeiras cresceu 1.227% entre o primeiro semestre de 2018 e o deste ano, cita o report. Já a base passou de 2,8 milhões de usuários. A bolsa de cripto mexicana Bitso, por sua vez, vem acelerando sua expansão na região — no total, soma mais de 2,4 milhões de clientes. O estudo menciona, ainda, o ETF da Hashdex, que vem crescendo bastante em número de acionistas nos últimos meses.

O estudo aponta também a multiplicação dos unicórnios fintechs na América Latina. Entre 2020 e 2021, destacam-se mega rounds: Nubank (US$ 750 milhões), Ualá (US$ 350 milhões), dLocal (US$ 350 milhões), Neon (US$ 300 milhões), Clip (US$ 250 milhões), Betterfly (US$ 60 milhões) entre outras.

Do total de capital investido na região em 2020 por VCs, fintechs concentraram 40% dos deals, muito à frente de outros segmentos, como e-commerce (12%) e super apps (7%), de acordo com dados da Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (Lavca).

O avanço dos neobanks também é notável. O CB Insights calcula 20 empresas no Brasil, maior quantidade dentre os países da região, à frente de México (dez), Argentina (sete) e Peru (três, onde está o B89, que o leitor do Finsiders descobriu em primeira mão).

Uma análise feita pelo Atlantico sobre o market share relativo dos neobanks no Brasil, tendo como base os usuários mensais de Android ativos (usuários únicos que abriram o app naquele mês), aponta que em junho o Nubank atingiu 28% de participação relativa, seguido por Banco do Brasil (20%), Bradesco (17%), Itaú (16%), C6 Bank (7%), Inter (10%) e Neon (3%).

Um ano atrás, o Nubank tinha 23%, enquanto o segundo colocado, o BB, estava com 27%. Bradesco também perdeu share, enquanto C6 e Inter avançaram. Um disclaimer do VC: o market share verdadeiro cai entre 10% do valor apresentado, só inclui usuários de Android e não considera todos os neobanks no país. Mas é um dado interessante para notar o aumento da competição pelos clientes.

Os bancos digitais raramente são a única conta do cliente, diz o report. Outras pesquisas já levantaram essa bola. Muita gente ainda prefere ter várias contas, justamente porque cada player oferece determinados benefícios e vantagens (eu, mesmo, tenho conta em quatro neobanks, pelos meus cálculos, fora as wallets).

Do total gasto pelos mais de 6 milhões de usuários do Guiabolso em junho, mais da metade (52%) já são de clientes de neobanks (representados por Nubank, Inter e Original) aponta o report, citando números internos da fintech recém-comprada pelo PicPay. Os bancos tradicionais (Itaú, BB, Santander, Caixa e Bradesco) corresponderam ao restante (48%). Em julho do ano passado, porém, os bancões respondiam por 65% dos gastos totais, contra 35% dos neobanks.

A segunda edição do report “Transformação digital na América Latina” traz, ainda, diversas tendências na região. “Estamos transformando átomos em bits. Livros são substituídos por pixels, esculturas se transformam em tokens, dinheiro se transforma em Pix. À medida que o mundo se torna digital, o que antes era caro e escasso agora pode se tornar gratuito e abundante. A rápida digitalização da América Latina, acelerada ainda mais pela pandemia, deu início a mudanças profundadas na economia e na sociedade da região”, escreve o Atlantico no documento (acesse aqui).

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