QI Tech, a primeira SCD no Brasil, capta US$ 50 milhões

As fintechs vêm desbravando o mercado de crédito há alguns anos. Mas o impulso maior veio com a Resolução 4.656, publicada em 2018 pelo Banco Central (BC), que criou as figuras de SCD (Sociedade de Crédito Direto) e SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas).

Naquele ano, a QI Tech, empresa de tecnologia com foco em serviços financeiros de São Paulo (SP), virou notícia por ser a primeira a receber a licença recém-criada SCD. Porém, ela não atua diretamente com o consumidor (PF ou PJ), e sim fornece sua infraestrutura de “lending as a service” para outras fintechs. Em outras palavras, trabalha nos bastidores.

Os números da companhia, porém, não são tímidos. Muito pelo contrário. Desde o início da operação, em meados de 2019, a QI Tech já emitiu R$ 5,5 bilhões em operações de crédito em nome de seus parceiros, dos quais R$ 200 milhões em seu primeiro ano, R$ 1,2 bilhão em 2020, e R$ 4,1 bilhões neste ano. A expectativa é que o volume feche este ano com crescimento de 6x contra 2020.

Agora, a QI Tech se prepara para expandir ainda mais o negócio, inclusive já traçando um plano de fazer um IPO em 2023 na B3 ou na Nasdaq. Até lá, ainda tem chão, mas a empresa está capitalizada — acaba de levantar US$ 50 milhões (aproximadamente R$ 270 milhões) em uma rodada Série A.

O round, “disputado” segundo a fintech, foi liderado pelo Fundo Soberano de Cingapura (GIC), que conta com US$ 100 bilhões sob seu guarda-chuva e com investimentos em 40 países e em ativos, como ações, renda fixa, imóveis, private equity e infraestrutura. A QI Tech contou com assessoria financeira da Vinci Partners e Quatá Confidence, e assessoria legal do Freitas Leite. O GIC, por sua vez, contou com a assessoria legal do Machado Meyer.

Com o cheque, a empresa deve ir às compras nos próximos meses, visando negociações com empresas na área de data science. O intuito é aprimorar e dar mais segurança para a jornada de crédito (da originação à cobrança) oferecida aos seus clientes. Além disso, com o recurso, a companhia prevê quadruplicar a capacidade do time, que atualmente conta com 48 pessoas.

Além disso, a fintech aguarda o aval do BC para operar sua distribuidora de valores (DTVM), aprovação que deve ocorrer no primeiro trimestre de 2022. Mas não descarta fechar um negócio com uma instituição já autorizada. Propostas neste sentido até já foram feitas, mas nada concluído até o momento, diz um dos sócios da companhia, Marcelo Bentivoglio, em entrevista ao Finsiders. Como entre os clientes estão gestoras, a ideia é oferecer para eles todas as ferramentas em suas jornadas.

Criada no início de 2018 por Pedro Mac Dowell e Marcelo Buosi como uma necessidade de atender demandas financeiras da gestora onde estavam, a Quatá Investimentos, a QI Tech soma atualmente mais de 100 clientes, entre fintechs, startups, gestoras, bancos e empresas tradicionais, que podem utilizar a infraestrutura de LaaS.

A tecnologia 100% proprietária da QI Tech já permitiu a realização de mais de 200 mil operações, atendendo todo tipo de necessidade de emissão de crédito: financiamento estudantil, crédito ao consumidor, financiamento de automóvel, ‘buy now pay later’ (BNPL), consignado, entre outros.

Entre as ambições da companhia está em aumentar sua expansão no Brasil e, em seguida, na América Latina, em países como Chile, México e Colômbia.

“Mas também sabemos que entre nossos clientes há aqueles que são grandes por aqui. Queremos permitir que eles também sejam grandes na América Latina”, diz Bentivoglio.

Mercado concorrido

Mesmo com bons resultados atingidos e muitos planos, os sócios sabem que se firmar como o “Uber dos bancos” ou o maior emissor de operações de crédito da América Latina sem ter créditos em balanço é um desafio e tanto.

O mercado de crédito brasileiro movimentou R$ 4 trilhões em 2020, mas a maior parte disso (mais de 80%) está relacionado aos grandes bancos. De acordo com a QI, apenas o nicho de gestoras de crédito, onde a fintech nasceu, representa R$ 300 bilhões.

Hoje, existem 57 instituições SCD reguladas, segundo dados do BC. Com um mercado bastante líquido, tem crescido o número de fintechs ou outras instituições financeiras querendo abocanhar uma fatia deste segmento.

Para Bentivoglio, não há dúvidas de que há uma concorrência crescente no Brasil, mas ele acredita que a empresa está dois anos à frente no segmento, a exemplo de já ter uma estrutura de governança para suportar um IPO em 2023, além de ter uma equipe dedicada para atender às exigências do Open Banking, que promete movimentar o mercado de crédito ainda mais.

Em banking as a service (BaaS), o mercado — como o leitor do Finsiders sabe — está por demais movimentado. Mas as derivações, como o credit as a service (CaaS) e lending as a service (LaaS), também estão aquecidas. Quem entrou recentemente na área foi a Focus Financeira, conforme noticiou com exclusividade o Finsiders.

(Colaborou Danylo Martins)

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