As novas apostas do Itaú BBA para crescer entre as 'techs'

Nos últimos anos, os grandes bancos do país criaram diversas iniciativas de open innovation, como programas de aceleração e fundos de Corporate Venture Capital (CVC). Com a evolução célere do ecossistema de startups – com destaque particular para as fintechs – e a iminência do Open Finance, as maiores instituições do país tiveram de ampliar o olhar para enxergar novas oportunidades e, claro, novas fontes de receita, num contexto de maior competição.

O Itaú Unibanco, maior banco privado do país, lançou em 2019 o Núcleo Tech por meio do Itaú BBA – a iniciativa cresceu, se chama agora “nicho tech” e tem 35 profissionais dedicados, número que deve dobrar este ano. Em outra frente, o banco colocou para rodar em 2021 o Kinea Ventures, um fundo de CVC gerido pela Kinea, que já investiu em fintechs como Monkey Exchange, Paketá e Liqi.

Com uma base ativa de 1,4 mil empresas clientes, o nicho tech do Itaú BBA avança em sua estratégia para ser um ‘one-stop-shop’ para startups e empresas de tecnologia, oferecendo desde conta corrente, cartão corporativo e cash management até serviços de assessoria para rodadas de captação, operações de M&A, IPO e follow-on.

Agora, o banco de investimento passa a operar uma modalidade de Venture Debt, que já vinha sendo testada desde o ano passado. “Estamos com os três primeiros ‘term-sheets’ assinados, em fase de contratação dessas operações”, conta Gabriel Brabo, head do nicho tech do Itaú BBA, ao Finsiders. A expectativa é fazer algo como 20 a 30 operações neste ano, diz Fábio Villa, diretor comercial do Itaú BBA.

(O Venture Debt é uma modalidade que permite às startups levantarem recursos na forma de dívida não conversível, em vez de vender equity. Trata-se de uma forma de captação usada por empresas de tecnologia, entre elas, Airbnb, Facebook, Spotify e Uber, há pelo menos 30 anos. No Brasil, é algo recente, mas que começa a ganhar força.)

No Venture Debt, a ideia do Itaú é assinar cheques entre R$ 5 milhões e R$ 30 milhões, com prazo de dois a quatro anos. “É o prazo para as empresas terem fôlego e, assim, encaixar uma rodada de equity mais robusta”, explica Gabriel. O foco da nova linha são startups de diferentes verticais e setores, com tese já validada e produto testado, em preparação para escalar.

O tamanho do potencial do novo ‘book’ pode ser medido pelos números do nicho tech como um todo. “Do total de clientes ativos – mais de 1,4 mil empresas –, temos crédito em 700 a 800”, conta Fábio.

Hoje, a carteira de crédito do banco para o público tech como um todo já beira R$ 5 bilhões, diz o executivo. “Quando olhamos as teses de ‘growth’ e ‘late stage’, que é o foco das operações, estimamos pelo menos 20 a 30 operações no ‘book’ de Venture Debt para este ano.”

BaaS

Há pelo menos um ano, o Itaú também tomou a decisão de que seria um “player relevante” em banking as a service (BaaS). Sem alarde, o banco montou uma gerência específica para o tema e quer levar soluções para os diversos perfis de empresas clientes.

“Tem muito dinheiro nas cadeias de valor das empresas, que é ineficiente. Como otimizar isso que está no balanço das empresas? Estamos fazendo não só em grandes âncoras, mas na nossa base como um todo.”

Para grandes empresas, que têm ecossistemas ao seu redor, o Itaú pode ser ‘as a service’, oferecendo conta digital, Pix indireto, entre outros produtos e serviços para aquele ecossistema. Para as fintechs, o banco fornece serviço de conta liquidante, por exemplo. “Podemos oferecer [BaaS] por produto ou a plataforma completa”, explica Gabriel.

Sobre o portfólio atual em BaaS, Fábio não abre o número absoluto, mas dá uma pista: “Passa de uma centena. Está no caminho entre uma centena e outra”, diz. O pipeline, segundo ele, tem mais de 500 oportunidades mapeadas. Num sinal claríssimo de que mais e mais empresas buscam embutir produtos e serviços financeiros em suas plataformas.

Com 30 mil clientes, o Itaú BBA é conhecido pela atuação com grandes companhias, mas cada vez mais quer ser visto como “banco das techs”. Uma visão que começou a ganhar corpo há três anos e agora caminha para ser consolidada.

“É um ano de consolidação do modelo de negócios, do ‘book’ de crédito, da estrutura interna”, diz Gabriel.

Entre os planos para 2022 está a construção de novas agendas associativas e parcerias. Mais do que um player financeiro, o BBA quer ajudar seus clientes e fazer negócios entre si. “A gente quer ser um hub de originação de negócios para nossos clientes”, aponta Fábio.

O banco também aposta em presença em hubs de tecnologia, muito além da própria iniciativa, o Cubo. “Queremos estar presentes em todos os principais hubs de tecnologia”, diz Gabriel. Outro projeto previsto para o ano é o desenvolvimento de atendimento digital para empresas early-stage.

Os ‘bancos parceiros’ das startups

O BBA não é o único, por óbvio, como banco parceiro das startups e empresas de tecnologia. O boostLAB, do BTG Pactual, já potencializou mais de 60 startups e fez sete investimentos – A de Agro, Finpass, Pier, Spinet Bank, Celcoin, iClubs e Digesto (essa última já gerou exit, conforme revelou o Finsiders). Neste ano, o banco também passou a ofertar uma linha de crédito com foco em startups, como noticiamos em primeira mão.

Outros bancos, como BV, Original, ABC Brasil e Citi, também oferecem soluções de BaaS.

O Original, por exemplo, possui cerca de 60 parceiros, entre bancos, plataformas de e-commerce e fintechs, via Original Hub. Em 2021, processou mais de 250 milhões de transações, que movimentaram mais de R$ 24 bilhões. No BV, são 57 parceiros, e as transações na plataforma “open” do banco mais do que quadruplicaram no ano passado, ante 2020.

A Genial, que tem mais de 55 clientes no BaaS, também se prepara para lançar Venture Debt este ano, conforme contaram ao Finsiders recentemente Venâncio Velloso, sócio e CDO (Chief Digital Officer), e Aline Andrelo, sócia e executiva de relacionamento. A intenção é se posicionar como o “banco das startups”. Tanto é que, além de BaaS, a Genial oferece outros serviços de advisory/M&A, fund services e câmbio na recém-criada área CIB Tech (corporate & investment banking tech).

Em novembro de 2020, o Alfa lançou o programa de inovação aberta Alfa Collab. De lá pra cá, fez um investimento na agfintech E-ctare, como o Finsiders noticiou, assim como lançou uma linha de Venture Debt.

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