O 'hub financeiro' para imobiliárias da CashGO atraiu ex-CEOs de bancos

Quando trabalhou no QuintoAndar, liderando a vertical de produtos financeiros, o administrador de empresas Augusto Meirelles – que também atuou por cinco anos e meio no Itaú BBA – percebeu que havia a oportunidade de oferecer soluções financeiras, especialmente crédito, para o mercado de imobiliárias no país.

Em julho do ano passado, ele deixou a proptech e se uniu a João Victor Palhares (ex-Trovato Lending, fintech de crédito consignado privado, e VNI, gestora de ativos imobiliários) para começar a montar a CashGO. Completa o trio de fundadores o desenvolvedor Luidi Andrade, que se juntou ao time em setembro de 2021, depois de atuar como gerente de desenvolvimento de software no Mercado Livre.

Segundo os empreendedores, existem duas dores. A primeira é do mercado de crédito em geral, bastante concentrado nos grandes bancos. E a segunda é a oferta de produtos e serviços financeiros para imobiliárias tradicionais, um mercado com 57 mil empresas espalhadas por todo o Brasil e que vem tendo uma maior competição nos últimos anos com startups.

“As imobiliárias tradicionais ainda possuem uma fatia enorme de mercado, têm capilaridade. Hoje, são 14 milhões de imóveis alugados no país. Nossa ideia é tornar as imobiliárias mais competitivas, com produtos financeiros”, explica Augusto, cofundador e CEO da CashGO, com exclusividade ao Finsiders. “No longo prazo, a ideia é que quando a imobiliária pensar em produto financeiro, ela pense na CashGO.”

Criada oficialmente em julho do ano passado, a fintech desenvolveu a solução durante o segundo semestre. A primeira versão da plataforma, construída com uma tecnologia proprietária, entrou no ar em janeiro deste ano, já com algumas dezenas de parcerias com imobiliárias, em oito Estados brasileiros.

O negócio nasce com um produto de antecipação de aluguéis para os proprietários de imóveis. Todo o processo de contratação do crédito, da simulação à aprovação, é feito de maneira digital. A liberação dos recursos na conta do tomador ocorre em até 48 horas. “Mas já fizemos a jornada em um prazo mais curto”, diz João Victor Palhares, cofundador e COO.

As operações são de até R$ 30 mil, com prazo de pagamento de até 12 meses, mas a startup está começando a ampliar para até 18 meses. A taxa de juros cobrada é de 3% ao mês.

Nesta fase inicial, o funding é da própria CashGO, que assume o risco de crédito das operações. “Já estamos preparando estruturas financeiras para acessar outros bolsos. A ideia é fazer uma parceria com uma securitizadora”, diz Augusto.

Para fazer a largada e os primeiros desembolsos, a fintech levantou uma rodada seed – de valor não divulgado – com um time de investidores, incluindo experientes executivos do setor financeiro.

No grupo estão nomes como Sérgio Clemente, ex-CEO do Bradesco BBI; José Luiz Acar, ex-CEO do Banco Pan e sócio do BTG; Carlos Geo Quick, fundador da seguradora Pottencial; João Geo Neto, CEO da Pottencial; Fernando Perrelli, ex-diretor do Bmg e do Bradesco; Daniel Prado, ex-diretor do BTG Pactual, entre outros.

O valor captado até o momento será destinado ao desenvolvimento de tecnologias e à composição da carteira inicial de recebíveis, explicam os empreendedores. “A ideia é automatizar cada vez mais os processos”, explica Luidi Andrade, cofundador e CTO da startup.

Neste primeiro ano, a expectativa da CashGO é antecipar cerca de R$ 25 milhões em aluguéis para proprietários em todo o Brasil. A fintech espera ultrapassar uma centena de imobiliárias parceiras ainda em março. “Não me surpreenderia se chegasse a 1 mil até o fim do ano”, diz João Victor.

Agora o principal desafio da startup é ganhar tração e escalar o negócio. “O que queremos agora é contar que a CashGO existe. O tráfego orgânico já está surgindo, e vamos começar a expandir a parte de marketing e publicidade”, aponta Augusto.

Outro objetivo é lançar novos produtos de crédito, não apenas para proprietários de imóveis, mas também para inquilinos e para as próprias imobiliárias. “Pelo menos no curto e médio prazo, não pretendemos olhar para seguros ou outros produtos financeiros. Nosso foco é crédito.”

Mercado

É visível o avanço de soluções digitais no setor imobiliário, desde plataformas de compra, venda e aluguel até fintechs com oferta de financiamento para compra de imóveis e linha de home equity. Proptechs como QuintoAndar – avaliado em US$ 4 bilhões na última captação, no ano passado – e Loft – que vale quase US$ 3 bilhões – têm apetite por produtos e serviços financeiros, só para ficar em dois exemplos.

Aprovada na segunda edição do sandbox da Susep com um produto de fiança locatícia, a Rede Vistorias é outra empresa de soluções imobiliárias que aposta na oferta financeira. O GrupoRV – que inclui a Rede Vistorias, Rede ConfiaX, Rede Seguradora e Rede Credit – levantou no mês passado um aporte de R$ 35,6 milhões em uma rodada liderada pela Oria Capital.

Potencial de crescimento não falta para a CashGO e outras startups. O Brasil tem 72,4 milhões de domicílios particulares permanentes, dos quais 18,3% são alugados, conforme dados do IBGE referentes a 2019 – última atualização disponível. “Apesar de não ter números oficiais, diria que quase 97% do mercado está nas mãos das imobiliárias tradicionais. É muito pulverizado”, diz Augusto.

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