Creditas levanta US$ 50 milhões e compra licença bancária do Andbank

A Creditas acaba de anunciar três movimentos importantes para sua expansão. A fintech de crédito está comprando a licença bancária do Andbank Brasil, em uma transação avaliada em R$ 500 milhões.

Ao mesmo tempo, divulgou uma extensão da Série F no valor de US$ 50 milhões, trazendo o próprio Andbank para o captable. E, por fim, a fintech fundada pelo espanhol Sergio Furio fechou a aquisição da Kzas, marketplace de financiamento imobiliário fundado por ex-You e Imovelweb.

Vamos por partes, começando pelo acordo com o Andbank. Trata-se de um grupo europeu especializado em private banking, fundado em 1930 em Andorra, e que chegou ao Brasil em 2011. Atualmente, soma R$ 8 bilhões em ativos sob gestão (AuM).

A Creditas está comprando a licença bancária do Andbank, conseguida pela instituição em 2015 depois da aquisição do Banco Bracce (antigo Lemon Bank). O acordo está sujeito à aprovação das autoridades regulatórias (Banco Central do Brasil e Autoridade Financeira Andorrana) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A operação inclui apenas a licença de banco, cujo valor patrimonial (EV, na sigla em inglês) será de R$ 450 milhões após a aprovação de aumento de capital, informa a Creditas em comunicado. Ou seja, o Andbank focará em seu business de private banking e gestão de ativos, e continuará operando no Brasil como DTVM e gestora de recursos.

O acordo também inclui a possibilidade de que a Creditas seja uma acionista minoritária do negócio de private banking do Andbank. Ao mesmo tempo, o grupo europeu planeja ser acionista minoritário da Creditas.

O principal racional para o negócio é a diversidade de fontes de funding para as operações de crédito. Na prática, depois da aprovação da compra da licença bancária do Andbank, a Creditas passará a ter acesso a outros instrumentos de captação de recursos, como CDBs e LCIs, por exemplo.

“O mercado de capitais continuará sendo nossa principal fonte de capital e agora trabalhará em conjunto com a equipe do Andbank para inovar em nossas estruturas de mercado de capitais, incluindo FIIs, FIDCs e CRIs”, diz Sergio Furio, fundador e CEO da Creditas, em comunicado. Hoje, a fintech tem uma carteira de crédito de R$ 5 bilhões.

“Estamos entusiasmados em nos tornarmos acionistas da Creditas, em parceria com Sergio Furio. Estamos altamente comprometidos em criar valor para a Creditas por meio de nossa expertise em serviços bancários”, afirma Carlos Aso, CEO do Andbank (na foto).

Também no texto, Carlos Foz, o CEO do Andbank Brasil, informa que a instituição seguirá com seu plano de expansão no país, o que inclui a abertura de novos escritórios e novas aquisições.

Captação

Seis meses depois da Série F de US$ 260 milhões, a Creditas está levantando agora uma extensão de US$ 50 milhões, trazendo para o captable o próprio Andbank. Na nova captação, a fintech manteve o valuation da rodada anterior, de US$ 4,8 bilhões.

No último cheque, anunciado em janeiro, a fintech atraiu investidores como a gestora Fidelity, que liderou o round, além dos fundos Actyus e Greentrail Capital. Acompanharam a captação antigos investidores: QED Investors, VEF, SoftBank, Kaszek, Headline, Wellington Management e Advent por meio da Sunley House Capital.

Compra da Kzas

Além disso, a Creditas está levantando US$ 150 milhões em uma nota conversível em ações para buscar oportunidades estratégicas “seletivas” e continuar expandindo seu ecossistema. E isso já está se materializando agora com a aquisição da Kzas, uma plataforma digital multibancos especializada em financiamento imobiliário.

Inicialmente pensada para ser uma espécie de “Tinder do mercado imobiliário”, a Kzas pivotou o negócio para o financiamento, no primeiro semestre do ano passado, conforme contaram os fundadores Eduardo Muszkat e Roberto Nascimento, em entrevista ao Finsiders na época.

Fundada em 2019, a startup chegou a levantar um seed money de US$ 4 milhões com a Redpoint eventures (investidora da Creditas, by the way). Questionada pelo Finsiders, a empresa informou que, com a aquisição da Kzas, a Redpoint teve sua participação aumentada na Creditas — o fundo entrou no captable da fintech na Série A.

Os recursos adicionais captados pela Creditas também ajudarão na expansão da Voltz, fabricante de motos elétricas na qual a fintech já investiu mais de R$ 150 milhões, incluindo capital e dívida. A empresa abriu recentemente uma fábrica em Manaus.

Contexto

A Kzas não é o primeiro M&A feito pela Creditas. No ano passado, a fintech comprou a Bcredi (de crédito imobiliário e home equity), Minuto (corretora online de seguros) e Volanty (de compra e venda de carros seminovos). Em 2019, para avançar em consignado privado, a Creditas havia comprado a Creditoo.

Agora, a aquisição da Kzas abre uma avenida de crescimento em financiamento imobiliário, um produto que a Creditas ainda não tem. A fintech opera com crédito com garantia de imóvel e veículo e ampliou nos últimos anos sua atuação para financiamento de veículos, compra e venda de carros e oferta de benefícios corporativos.

Crise

Sobre o atual cenário, Sergio Furio diz no comunicado que a equipe da fintech tem se mostrado extremamente resiliente. Em meio a tantas demissões no ecossistema de startups, a Creditas fez apenas um pequeno corte de 11 pessoas na área de facilities.

“Estamos muito animados com o futuro que está por vir. A equipe da Creditas tem se mostrado extremamente resiliente ao atual ambiente de mercado e está apresentando um tremendo crescimento de 3,2x em relação ao primeiro semestre do ano passado, ao mesmo tempo em que aumenta a eficiência e a produtividade”, afirmou o empreendedor, no texto.

De janeiro a junho deste ano, a Creditas somou receita de R$ 820 milhões, montante 3,2x maior em relação ao mesmo período de 2021. Os dados financeiros completos referentes ao primeiro semestre ainda não foram divulgados pela companhia que, em 2021, apurou prejuízo de R$ 353,4 milhões — alta de 83,7% ante o ano anterior.

A empresa chegou a cogitar fazer uma abertura de capital neste ano, mas o plano foi engavetado devido às condições de mercado. Ao site NeoFeed, Furio disse que o IPO ainda segue no roadmap, mas o foco prioritário agora é dar lucro.

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