Cumbuca, a fintech da 'conta conjunta reinventada', lança iniciação de pagamentos

Para operacionalizar a funcionalidade recém-lançada, a Cumbuca utiliza a solução da Quanto, plataforma de Open Finance

Quando conversou com o Finsiders em janeiro, Daniel Ruhman, de 24 anos, havia acabado de lançar oficialmente a Cumbuca, uma fintech de conta compartilhada. Na época, o jovem empreendedor contou que um passo importante seria colocar a iniciação de pagamentos no app, tornando a experiência do usuário mais simples e fácil para realizar transações, a começar pelo cash-in, por exemplo.

Agora essa jornada começa a se tornar realidade. Com exclusividade ao Finsiders, a Cumbuca anuncia que acaba de incluir a funcionalidade de depósito de dinheiro via Pix, por meio da iniciação de transação de pagamento — modalidade que integra a fase 3 do Open Finance. Na prática, o processo reduz etapas do cash-in, permitindo que o usuário traga recursos de diferentes instituições onde tem conta, com um comando no app.

Funciona assim: no momento de fazer um depósito no app, o usuário agora tem a opção “Pix Open Finance”, na qual deverá escolher o banco e indicar o valor que deseja transferir via Pix. Depois da validação, o dinheiro irá para a Cumbuca em fluxo contínuo, sem que o cliente precise acessar o aplicativo da instituição financeira de onde está trazendo os recursos.

Assim que a operação for realizada, o dinheiro poderá ser utilizado para fazer pagamentos em conjunto com outros membros da sua conta, definindo as proporções com que cada um participará de um pagamento, além de dar visibilidade das transações para quem também participa da sua Cumbuca.

No ar desde o último sábado e disponível para 100% da base, a feature foi construída a “quatro mãos” — para operacionalizar a iniciação de pagamentos, a fintech utiliza a solução da Quanto, plataforma de Open Finance que recentemente se tornou apta a operar como ITP, conforme o Finsiders reportou. A Cumbuca também aguarda a aprovação no Banco Central (BC) para sua licença de ITP.

“A iniciação é ‘core’ para a Cumbuca. Já demos entrada com o pedido [no BC], está tramitando e esperamos receber a licença nos próximos meses. Mas sabe como é ‘produteiro’? Precisamos entregar funcionalidade para os usuários e escolhemos a Quanto, que é a primeira ITP ‘pura’”, conta Daniel Ruhman, CEO e fundador da Cumbuca, em entrevista ao Finsiders.

O primeiro caso de uso da iniciação de pagamentos é o cash-in, mas outras funcionalidades estão no radar da fintech. Uma delas é facilitar o processo de “cobrança” entre os usuários, um jeito de acabar com as tretas da divisão de gastos do churrasco do fim de semana, sabe? “Isso é só o começo. Nosso sonho grande é VRP [sigla em inglês para pagamento recorrente variável]”, revela o fundador.

Até lá, claro, há um longo percurso a se percorrer. Isso porque a iniciação de pagamentos está em trajetória inicial no Brasil, com somente alguns players em plena operação e poucos casos de uso sendo testados. Hoje o principal desafio, segundo analistas, é garantir o sucesso na comunicação com todos os detentores de conta, muitos dos quais ainda estão adaptando suas APIs conforme as especificações.

Daniel Ruhman, fundador da Cumbuca (Divulgação)
Daniel Ruhman, fundador da Cumbuca (Divulgação)

No caso da Cumbuca, para colocar o recurso de pé, a fintech levantou quais são as instituições financeiras mais utilizadas pelos seus usuários na hora de transferir o dinheiro para o app. A lista é pequena e inclui alguns dos maiores bancos e fintechs do país, como Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e Mercado Pago.

Agora com a feature lançada, a startup está começando um trabalho de comunicação para explicar o benefício de se utilizar a opção de Pix via Open Finance.

“A iniciação de pagamentos coloca o controle 100% nas mãos do consumidor”, diz Daniel. “A autonomia do cliente tende a ser um fator transformador no curto e longo prazo, proporcionando possibilidades infinitas para players dos mais variados segmentos, não apenas para as instituições financeiras como costumava ser.”

Cartão é o próximo passo

Lançada no começo do ano, a Cumbuca aposta no conceito de “multiplayer banking”, em que cada pessoa tem uma conta individual, mas todos do grupo conseguem enxergar como o dinheiro coletivo está sendo utilizado. Para rodar sua solução, a Cumbuca utiliza a tecnologia da Stark Bank, fintech que fornece tecnologia para empresas escalarem suas operações.

Atualmente, a fintech permite a cada usuário montar apenas um grupo, com quantidade ilimitada de membros. “Todo grupo tem um administrador, que define as regras do grupo. Ninguém mexe com seu dinheiro sem você ter dado permissão”, explica Daniel. Até o início do próximo ano, a Cumbuca vai liberar a criação de múltiplos grupos por usuário, revela o empreendedor.

“Também estamos na reta final para lançar nosso cartão”, diz ele, sem abrir detalhes. Quem já utiliza o app pode entrar na lista de espera para solicitar o produto. O cartão será, inclusive, uma via de monetização para a fintech, que começou cobrando mensalidade para uso do aplicativo e tornou a plataforma gratuita depois que percebeu que não conseguiria escalar tão rapidamente com um modelo pago.

Recentemente, a Cumbuca também incluiu a opção de débito automático compartilhado no aplicativo, conta Daniel. É possível, assim, ter um pagamento agendado junto com outras pessoas. Com os saldos individuais, os integrantes da conta decidem a quantia que cada um contribuirá para o pagamento das despesas.

Perguntado sobre a base atual, o fundador diz não abrir esse número, mas garante que o plano de atingir 25 mil usuários em 2022 continua valendo. “A escala de crescimento segue a mesma”, afirma.

Concorrência

No mundo, diversas empresas vêm construindo soluções para resolver a dor dos pagamentos compartilhados. Entre elas, estão as norte-americanas Braid e Ivella, a mexicana MoneyPool e a francesa Lydia, para ficar em alguns exemplos. Já a britânica Curve fechou parceria neste ano com a plataforma de Open Banking TrueLayer para viabilizar os pagamentos recorrentes variáveis.

Por aqui, a Cumbuca não tinha competidores diretos quando se lançou oficialmente ao mercado no começo do ano, mas não demorou para a concorrência aparecer. Estou falando da Noh, que automatiza a divisão e o pagamento de contas — já oferece um cartão compartilhado bandeira Visa e permite múltiplos grupos com até 25 pessoas cada.

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