Na Higlobe, uma assinatura 'low cost' para facilitar pagamentos de freelancers

Recém-chegada ao país, a fintech norte-americana Higlobe quer atrair 60 mil profissionais brasileiros nos próximos 12 meses

Que a pandemia trouxe diversas transformações positivas para a economia, apesar do problema inflacionário e da retração global, não há nenhuma dúvida. Em alguns setores, o cenário ajudou a antecipar tendências bastante interessantes, como a possibilidade de trabalhar remotamente do outro lado do mundo.

Para publicitários, programadores e cientistas de dados, além de profissionais de customer service fluentes em inglês, essa nova realidade foi importante para ampliar o mercado de trabalho potencial. Por outro lado, essas pessoas passaram a usar soluções de pagamento cross-border com maior frequência, já que era necessário sacar o salário no país de origem.

A lógica é simples: sem as antigas restrições fronteiriças, um brasileiro pode muito bem prestar serviço para uma empresa norte-americana, do Brasil, e receber em dólar, elevando de forma considerável o seu padrão de vida – ainda mais com o dólar acima dos R$ 5. O problema é que deixavam pequenos porcentuais pelo caminho. É aí que entram fintechs como a Higlobe.

Após anos de experiência como executivo do Google na Europa, do Spotify e do Xapo Bank (um banco digital de bitcoin), Teymour H. Farman-Farmaian observou que as stablecoins — as moedas digitais pareadas em algum ativo fiduciário, como o dólar ou euro — poderiam ser empregadas para revolucionar o envio e recebimento de remessas entre países.

Resolveu, então, se juntar a Jeff Bolton, um engenheiro de software com passagem pela healthtech Parsley Health, com quem ele havia tentado desenvolver um social app há 10 anos, “algo similar ao TikTok”.

A iniciativa para tirar da cartola uma rede social não foi para frente. Com o interesse em implementar um serviço com o auxílio de stablecoins, os dois retomaram a parceria. A Higlobe atua como uma plataforma para o envio de dinheiro para colaboradores freelancers de países como México e Brasil que prestam serviços para companhias baseada nos Estados Unidos.

“Nosso time de engenheiros construiu um produto brasileiro para eles mesmos e seus amigos. Eles estavam cansados de perder 1%, 2% ou 3% do ‘paycheck’ toda vez que faziam movimentações internacionais, o que não é mais necessário”, afirma o CEO Teymour H. Farman-Farmaian, em entrevista exclusiva ao Finsiders.

“O custo das operações financeiras foi para zero, porque a pessoa não mais está movimentando dinheiro de banco para banco. Agora, ela pode usar tecnologia como stablecoin para as transferências”, completa.

Basicamente, a plataforma abre uma conta em um banco nos Estados Unidos para o seu cliente brasileiro. Quando há uma solicitação de transferência, a Higlobe aciona seus parceiros locais — o Bexs Banco, no Brasil, e a Bitso, no México –, para transferir a quantia requisitada dentro do mesmo país.

Como diferencial, as stablecoins usadas nas operações são lastreadas em dólares americanos ou títulos do governo dos EUA, o que garante a estabilidade. Na paridade, cada stablecoin vale US$ 1. Assim, é possível prover uma solução em que os freelancers desembolsam apenas US$ 4,99 por mês e podem usar o serviço de forma ilimitada.

Jeff Bolton (à esq.), CTO, e Teymour Farman-Farmaian, CEO da Higlobe (Foto: Divulgação/Higlobe
Jeff Bolton (à esq.), CTO, e Teymour Farman-Farmaian, CEO da Higlobe (Foto: Divulgação/Higlobe)

Na lógica de quanto mais se usa, mais é possível economizar, a Higlobe quer atrair 60 mil profissionais brasileiros nos próximos 12 meses, de um mercado endereçável que varia entre 1 milhão a 2 milhões de pessoas, segundo o CEO. A fintech também vai abrir o serviço para pessoas jurídicas ainda neste ano.

Para crescer e se consolidar, os sócios levantaram US$ 14 milhões em uma rodada liderada pela Battery Ventures, veículo de investimentos baseado na cidade de Boston, no estado de Massachussetts (EUA), em abril. A Battery já investiu em startups como Expel (cibersegurança) e Kojo (construção), e o seu sócio sênior, Scott Tobin, fará parte do conselho de administração da Higlobe.

No captable da companhia, constam, ainda, investidores como TTV Capital, FJ Labs, Reciprocal Ventures, Paxos, DCG, Raptor Group, e Gokul Rajaram.

Teymour diz que há oportunidades para explorar outros mercados emergentes, como a Colômbia, e, quem sabe, o Chile. Mas ressalta que o foco na América Latina neste momento são Brasil e México. No futuro, a ideia é trabalhar com stablecoins de outras regiões e países, como a Europa e o Japão, por exemplo.

“O mercado de Venture Capital sempre tem ciclos de altos e baixos. E, como estamos olhando para o longo prazo, tudo bem. A pandemia trouxe uma grande oportunidade para o Brasil de exportar mão de obra que não existia antes. Se antes o comércio estava restrito a produtos, agora é possível exportar propriedade intelectual”, afirma um CEO bastante otimista.

Mercado

Concorrência não faltará à Higlobe. Players como Remessa Online (comprada há quase um ano pelo Ebanx) e Husky (adquirida recentemente pela Nomad) já operam há alguns anos no segmento. A britânica Wise também vem crescendo no mercado local.

Há quase um ano também a Payoneer, fundada em 2005 pelo israelense Yuval Tal, desembarcou no Brasil, conforme o Finsiders mostrou na época.

*Fernando Barbosa é jornalista formado pela Universidade Anhembi Morumbi. Passou por jornais como Diário de São Paulo e DCI e pelas revistas Dinheiro Rural e Globo Rural. Também já contribuiu com os sites NeoFeed e PEGN. Atualmente, escreve para UOL e Finsiders. É apaixonado por futebol e corintiano fanático (assim como o editor-chefe do Finsiders, Danylo Martins).

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