EXCLUSIVO: CashMe, da Cyrela, faz aquisição e avança em novos mercados

A CashMe, fintech da Cyrela, quer ser o player mais relevante no ecossistema imobiliário. Para isso, a empresa aposta em novos produtos de crédito usando imóvel como garantia, mas também vem avançando em outros segmentos, como uma linha para condomínios. Lançada em setembro de 2020, essa modalidade deve ganhar impulso ainda maior agora, com a aquisição da CondCred, que a fintech acaba de fechar, conta à Finsiders Juliano Bello, cofundador da CashMe, que atuava antes como diretor financeiro da Cyrela.

“É um produto que começamos pequeno, com teste há seis meses, e começou a crescer bastante. Agora fizemos a aquisição da CondCred, segunda maior empresa de crédito para condomínios. Também estamos entrando no mercado de CRMs e SaaS de imobiliárias”, revela. Na modalidade para condomínios, o crédito é para prédios residenciais poderem financiar obras, reformas e demais expansões.

Neste ano, a startup também deve entrar no mercado de consórcio imobiliário, bastante explorado por grandes bancos, mas com pouco uso de tecnologia. O setor cresceu 21,5% em 2020, somando R$ 163,63 bilhões, conforme dados recém-divulgados pela Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). Historicamente, os segmentos de imóveis e veículos puxam o crescimento desse mercado.

Ao todo, mais de 1 milhão de participantes têm cotas de consórcios de imóveis, o que representa 13% do número total. “É um mercado que está crescendo muito e tem pouca tecnologia, é muito artesanal, a experiência não é boa”, diz Bello. Mas a CashMe não será a única nesse mercado — fintechs como Mycon, Consorciei BomConsórcio querem uma fatia desse bolo.

Além de consórcios, a CashMe está de olho em novos mercados, podendo fazer novas aquisições. Bello não revela os segmentos que está olhando mais de perto, mas diz que tudo que é atrelado a imóvel e esteja dentro do ecossistema imobiliário está no radar da empresa. Além disso, a equipe — hoje com 140 pessoas — deve dobrar de tamanho este ano.

“Queremos ser o player mais relevante nesse ecossistema, com a melhor solução.”

A depender da evolução acelerada do negócio, as chances são grandes. Em operação desde abril de 2018, a fintech já originou R$ 1,2 bilhão e tem uma carteira de cerca de R$ 700 milhões. “Fazemos algo como R$ 50 milhões de crédito por mês”, diz Bello. O funding vem de operações de securitização no mercado de capitais, com a emissão de certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), além de um FIDC.

O outro FIDC da fintech, o CashMe Plural, foi um dos selecionados na chamada pública feita pelo BNDES no ano passado para fundos de crédito com foco em micro e pequenas empresas, além de microempreendedores individuais. É um fundo de R$ 600 milhões, com parte oriunda da Cyrela e o restante do BNDES. O destino é carimbado: crédito para pequenos e médios empresários, com tíqutes de até R$ 2 milhões por empréstimo.

Segundo ele, entre os diferenciais da CashMe estão a avaliação remota de imóveis e alienação fiduciária 100% digital. “Conseguimos fazer assinatura de contrato digital, dar acesso ao cartório para esse instrumento digital. Fizemos piloto três meses antes da pandemia”, explica. Não à toa, o prazo médio de contratação do home equity entre os clientes da fintech fica em 7 dias, enquanto no mercado chega a 45 dias, segundo Bello.

Agora o desafio é acelerar o processo de liberação do recurso, que costuma demorar por causa dos trâmites em cartório. A fintech está com um piloto para liberar o recurso antes do registro em cartório, com meta de reduzir o prazo para dois dias.

Na pandemia, a CashMe conseguiu controlar a inadimplência e recebeu muitos pedidos de renegociação dos contratos — em torno de 18% dos clientes fizeram algum tipo de renegociação. “A gente achava que o impacto seria maior”, admite. Hoje, a maior parte (cerca de 70%) dos clientes é de pequenas e médias empresas, que buscam substituir linhas mais caras de capital de giro por modalidades mais baratas e com prazo mais longo, caso do home equity.

As condições são favoráveis para o avanço da modalidade, ainda incipiente no Brasil. Além da taxa de juros baixíssima, o produto começa a ficar mais conhecido. Trata-se de um mercado que hoje movimenta pouco mais de R$ 11 bilhões, mas tem potencial de injetar R$ 500 bilhões na economia.

A concorrência também tem ficado mais acirrada. Em janeiro, a Creditas comprou a Bcredi para fortalecer sua operação no setor imobiliário. A Pontte captou R$ 160 milhões com um fundo soberano asiático no ano passado. E a LendMe está fechando uma rodada Série A, conforme antecipou a Finsiders.