Ex-Brazilian Mortgages monta fintech de home equity

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Nos últimos 13 anos, Elyseu Mardegan Jr. se especializou em crédito imobiliário e home equity. Ex-vice-presidente da American Express, empresa onde trabalhou por mais de 17 anos, o executivo liderou a BM Sua Casa, projeto de crédito imobiliário para baixa renda da Brazilian Mortgages, operação comprada em 2011 pelo Banco Pan. Em sete anos, até 2013, a BM Sua Casa alcançou 120 lojas no Brasil e originou R$ 2,5 bihões em cerca de 12 mil contratos, diz Mardegan Jr.

Elyseu Mardegan Jr., fundador da LendMe (Crédito: Divulgação)
Elyseu Mardegan Jr., fundador da LendMe (Crédito: Divulgação)

Agora o executivo quer levar a experiência com home equity — produto que representava entre 60% e 80% das vendas da BM Sua Casa — para um novo negócio. Criada no fim de 2019, a LendMe começou a operar em fase de testes no início de agosto e há duas semanas entrou no ar oficialmente, conta o empreendedor em entrevista exclusiva à Finsiders.

A plataforma, que usa tecnologia blockchain da rede Ethereum, foi montada com investimento de R$ 2,5 milhões captados com três investidores-anjos, um deles investidor profissional e os outros dois executivos do setor financeiro, de nomes não revelados.

Ao lado de Mardegan Jr. estão sete sócios, entre eles Felipe Leite, ex-gerente de risco de crédito da Creditas; Analu Nogueira, ex-gerente jurídica da securitizadora Isec; Jefferson Pavarin, sócio da Tehar Desenvolvimento Imobiliário e ex-executivo da Isec e da XP; e Maurício Silva, ex-gerente de operações do Paraná Banco.

“O home equity precisa ser um produto mais simples, prático e rápido. Então, vimos a possibilidade de colocar tecnologias que pudessem transformar a experiência dos clientes com esse produto.”

Até o fim do ano, a expectativa da LendMe é originar R$ 50 milhões em empréstimos, um valor acanhado frente aos concorrentes, admite Mardegan Jr. Para ele, o mais importante nestes primeiros meses é a qualidade da carteira, e não o volume liberado em crédito. O funding virá de um FIDC próprio que está sendo constituído.

No primeiro ano de operação, o desafio é consolidar a plataforma e desenvolver um negócio que possa atrair futuros investidores. “Queremos fazer um início muito pé no chão, com créditos e imóveis de qualidade”, diz. Assim, a ideia é avançar num mercado que hoje movimenta R$ 10,7 bilhões, mas tem potencial de injetar R$ 500 bilhões na economia.

Para o empreendedor, a criação da LendMe tem a ver mais com a expansão do tamanho do home equity no país do que com a disputa por uma fatia do bolo com as fintechs que já operam no segmento, como CreditasPontteBcrediCashMe (da Cyrela) e outras.

“Estamos longe de alcançar o mínimo do potencial do home equity no Brasil. Então, se trabalharmos todos para tirar as burocracias do produto, temos todos a ganhar.”

Operando como correspondente bancário da BMP Money Plus, a fintech vai liberar empréstimos de R$ 100 mil a R$ 1,5 milhão, limitado a 50% do valor do imóvel, prazo entre 5 e 15 anos e taxas que variam de 0,95% a 1,15% ao mês. Por enquanto, não está nos planos abrir uma SCD. Uma operação como essa, diz Mardegan Jr., traz benefícios mas também custos.

Com experiência na concessão desse tipo de crédito, o executivo diz que o home equity é normalmente contratado por dois motivos: consolidação de dívidas mais caras e realização de objetivos, como pagar faculdade dos filhos.

Outro perfil comum é de pequenos empreendedores ou empresários que tomam o empréstimo com garantia para abrir um negócio ou expandir as operações da empresa. “Dos contratos que estão surgindo, boa parte vem desse público.”

O avanço do home equity no país também tem relação com a agenda do BC em estimular a modalidade, avalia Mardegan Jr. A autoridade monetária liberou o uso do mesmo imóvel em dois empréstimos diferentes, desde que sejam na mesma instituição — essa condição limita um pouco a concorrência no segmento, diz o empreendedor.

Uma das barreiras à aceleração desse tipo de crédito é a ausência de informações centralizadas do registro de imóveis, como ocorre com veículos, por exemplo, que têm gravame registrados na B3/Cetip. “Os cartórios estão se automatizando cada vez mais, mas ainda falta ter um lugar único para centralizar as informações sobre os imóveis.”

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