Magnetis entra no private e lança nova experiência de investimentos

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Três meses depois de ter captado R$ 60 milhões e criado a própria DTVM, a gestora de patrimônio digital Magnetis acaba de anunciar sua entrada no segmento private, hoje com volume financeiro de cerca de R$ 1,3 trilhão, segundo a Anbima, e dominado por grandes bancos — mas que nos últimos anos viu o avanço de casas independentes.

Não é um mundo desconhecido para o fundador Luciano Tavares, ex-Merrill Lynch e Nest Investimentos. Agora o empreendedor quer combinar o que existe no wealth management — como oferta de produtos diferenciados e atendimento personalizado — com bastante uso de tecnologia, especialidade da fintech criada em 2015. É o que ele conta em entrevista exclusiva à Finsiders.

A expertise de gestão de patrimônio também vem direto da fonte: desde o ano passado a Magnetis tem uma parceria com o Julius Baer Family Office (JBFO), subsidiária do grupo suíço Julius Baer, que nasceu da união entre as gestoras GPS e Reliance no Brasil. A instituição detém uma participação minoritária na fintech desde 2019.

“Mesmo o cliente que tem mais de R$ 1 milhão em investimentos ainda é carente de opções e às vezes investe por meio do gerente do banco ou do assessor da corretora, com conflito de interesse.”

O novo serviço, já em teste com alguns clientes, quer fisgar investidores com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras, régua estipulada pela Anbima para os clientes private —  cada instituição tem liberdade para definir o tíquete mínimo.

Luciano Tavares, CEO e fundador da Magnetis (Crédito: Leandro Caproni/Divulgação)
Luciano Tavares, CEO e fundador da Magnetis (Crédito: Leandro Caproni/Divulgação)

Pergunto se o objetivo é brigar com os maiores serviços de wealth management e, claro, com os grandes bancos. Segundo ele, a ideia não é competir pelo ‘ultra-high’, normalmente donos de grandes fortunas.

“Clientes com até R$ 10 milhões acabam indo para corretora e são atendidos por assessores motivados pelo rebate. Vamos oferecer uma nova experiência com atendimento personalizado feito por planejadores financeiros certificados (CFP, na sigla em inglês).”

Com a entrada no private, a Magnetis passa a dividir os clientes em três segmentos: ‘digital’ (até R$ 50 mil em investimentos), ‘advisor’ (de R$ 50 mil a R$ 1 milhão) e ‘private’ (acima de R$ 1 milhão).

Nova experiência

A gestora anunciou também uma nova experiência de investimentos, com a adoção da metodologia Goal Based Investing (GBI), abordagem que começa a ganhar força em outros países puxada por fintechs. Na prática, significa definir uma estratégia de alocação dos investimentos com base em objetivos de vida, e não a partir do perfil de risco, modelo tradicional usado pela indústria, inclusive nos questionários de suitability.

“Investir mirando objetivos é uma tendência mundial. O paradigma do mercado hoje é de venda de produtos, mas isso está dissociado dos objetivos das pessoas.”

O algoritmo utiliza informações do perfil de risco de investidor, o valor dos seus objetivos financeiros e as respectivas datas esperadas para realização de cada um, afim de analisar todos os cenários possíveis e indicar o portfólio que vai maximizar as chances de cumprimento dos objetivos, conforme as prioridades de cada cliente.

“Em resumo, já fazíamos gestão automatizada de investimentos, e agora estamos dando o passo além de automatizar a alocação para objetivos de vida.”

A tecnologia é proprietária e foi desenvolvida ao longo de mais de um ano. Nos últimos três meses, vem sendo testada por uma base de usuários, diz Tavares. “Fomos refinando os modelos. Esse algoritmo hoje já é segunda versão”, afirma. A funcionalidade será disponibilizada ao longo das próximas semanas para os cerca de 7 mil clientes que a fintech atende.

Ao todo, serão 145 mil combinações de cenários e possibilidades de alocação do patrimônio nas diferentes classes de ativos — hoje os algoritmos da Magnetis fazem uma varredura em mais de 20 mil produtos financeiros disponíveis no mercado e esse número só aumenta, inclusive com a criação de novos fundos pela própria gestora.

Expansão

A fintech ampliou nos últimos meses os fundos de fundos próprios, com novos produtos de debêntures incentivadas e crédito privado — esse último que iniciou as atividades em setembro e é destinado para investidores qualificados, compondo a oferta para o segmento private. “Nas estratégias de ações, expandimos camadas de proteção, e estamos usando algumas estratégias quantitativas de S&P para fazer hedge”, explica.

Com R$ 500 milhões sob gestão e mais de 350 mil planos de investimento montados, a Magnetis já fez a integração com sua DTVM e a ideia é fazer a migração dos investidores — que hoje aplicam pela Easynvest, parceira da fintech — para a distribuidora própria nos próximos meses. A mudança não será obrigatória para os atuais clientes que queiram permanecer com seus investimentos na corretora recém-comprada pelo Nubank, diz Tavares.

Em julho, a Magnetis anunciou um aporte de R$ 60 milhões em uma rodada Série B, liderada pela Redpoint eventures, com participação do Vostok Emerging Finance — ambos já eram investidores da fintech.

Foi a terceira captação da fintech. Em 2015, a startup levantou R$ 3 milhões em round liderado pela monashees, acompanhado por Redpoint eventures, 500 Startups, NH Investimentos, além dos investidores Guilherme Horn, hoje diretor do banco BV, e Sergio Furio, fundador da Creditas. Em 2018, foi a vez de uma Série A de R$ 17 milhões, liderado pela Vostok Emerging Finance e monashees, com participação da Redpoint eventures.

Mercado aquecido

O movimento da Magnetis ocorre num momento aquecido do mercado de investimentos. Há duas semanas, o Itaú Unibanco anunciou o lançamento de um aplicativo de investimentos, conforme antecipado pela Finsiders. No início do mês, o Santander comprou 60% da Toro Investimentos e, em setembro, o Nubank divulgou a aquisição da Easynvest.

Não dá para dizer que é um mercado sem emoção, né?